Vestígios de casa. (3)
Somente após o apelo das cigarras, é que a tarde começava a cair. No ar hesitava um cheiro meio acre a mornidão. Um fim de dia se firmava na lua, tímida palidez no céu. Primeiro uma, depois duas, no minuto seguinte eram milhares de cigarras. As cantoras invisíveis, habitantes da vegetação densa. A pele respira este apelo das cigarras, de que a noite em breve vem, de que o dia deixou de ser. Lentamente.
Sentada no muro do terraço assistia a tudo isso impávida. Pés descalços a balançar, a reunir todos os detalhes. A alimentar a minha ânsia de pertença.
Se eu fechar os olhos ainda as posso ouvir, distantes. As cigarras.
Se eu fechar os olhos sei que posso transformar a saudade em presença.
A duração não importa quando se sente de forma plena.