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Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

Chá de Menta

I am half agony, half hope | Jane Austen

( "olha só, o bagulho tá frenético..." )

24.08.09, a dona do chá

... dizia ele toda a vez que abria a porta da cozinha, a fazer aquela cara de mau misturada com um riso de fugida. no início, eu ficava a olhar. meio anestesiada. no fim, eu já caía na gargalhada. nós somos três, mas totalmente diferentes uns dos outros. totalmente. mas de nós os três, ele é o que tem um humor impagável. uma boa disposição. claro que eu sou a mais carrancuda.  um humor mais seco. ele é o segundo, eu sou a terceira. o mais velho tem seus dias de humor e seus dias carrancudos também, mas de nós ele é o mais calmo, sem dúvida. somos três e somos todos diferentes. que estranho isso.

 

com ele aqui foi como um ciclo se fechando. sei que ele tem medo, como nós também temos. como eu tenho, de cada minuto ser a última vez. ele veio, esteve connosco, viu nossos problemas e dificuldades, ajudou, participou, apontou o que estava certo e errado, falou, aconselhou, riu, chorou e morria de saudades de quem deixou do outro lado. nem parece que foram três meses. passou a voar. a voz dele sempre alta, sempre forte, sempre sonora, preenchendo cada canto da casa. que bom que foi. nós três juntos, como quando éramos pequenos, mas melhor ainda, porque somos adultos e temos noção da passagem do tempo. só não foi alegria completa porque ele estava aqui, mas o seu coração estava dividido. que bom seria se ele não estivesse sozinho. que bom seria se a rô e a pequena também tivessem estado aqui. é tão ruim viver dividido... é tão ruim.

 

e quando ele partiu, desatei a chorar, como quando era criança e não podia ver o meu pai a brigar com meus irmãos. desatei a chorar em silêncio como faço sempre, copiosamente em silêncio, para que o mundo não me ouça, para que eu não me reveja. e pude dizer antes de ele cruzar a passagem:

 

-"olha só, eu te amo viu?"