( CHÃO VERDE, PELA ÚLTIMA VEZ - 2 )
Perdemos a noção dos dias e das horas. Tudo fluía em função do horário de visitas. Tudo girava à volta da prioridade de não deixar a senhora sozinha. Tinha sempre alguém molhando-lhe os lábios, massajando os seus pés e as suas mãos e tranquilizando-a quando ela ficava mais agitada.
O filho esteve muitas madrugadas ao seu lado. Estava sempre ao seu lado. Como se não quisesse que ela fugisse. Como se quisesse fazer algo para retribuir tudo o que ela sempre fez por ele. Podiam-se ler na sua face, quando sem se aperceber fixava-se no infinito, os sentimentos de frustração e de impotência. Distinguia-se um grande porquê em cada gesto seu. Eu não podia fazer nada, além de estar em silêncio e atenta.
Perdemos a noção de nós mesmos.